Um dos mais modernos pensadores da antiguidade grega, Epicuro  (341-270 a.C.) foi um caso raro de sofisticação filosófica e sabedoria  de vida. Na verdade, na Grécia antiga os estudantes mudavam de escola  para escola à procura da melhor — mas quando descobriam os jardins de  Epicuro, não voltavam a mudar. 
Ler directamente os  seus escritos permite-nos compreender porquê: a sua tranquila  racionalidade e sensatez, a sofisticação da sua argumentação, que  todavia consegue transmitir de forma simples, são ingredientes que não é  fácil encontrar noutros filósofos.
Epicuro defendia uma vida de  prazeres simples, mas não simplistas; era materialista e atomista; e  procurava mostrar que a ansiedade torna as pessoas miseráveis, não  havendo razões para cair nessa armadilha. Hoje em dia, a nova  "psicologia positiva", que procura determinar como se pode viver feliz,  defende ideias semelhantes — mas hoje é preciso chamar-lhe "a ciência da  felicidade", para lhe dar um ar sério. A "Carta a Meneceu" (
agora reeditada em Portugal, com o título 
Carta Sobre a Felicidade)  é uma das mais citadas; nela, Epicuro defende que a morte não deve  provocar-nos ansiedade precisamente porque depois de mortos nós não  existimos e enquanto estivermos vivos, não estamos mortos.
Devemos  também a Epicuro uma das primeiras formulações do problema do mal: se  os deuses são omnipotentes e bons e sábios, por que razão há tanto mal  no mundo? Epicuro defendia que os deuses, se existem, se estão nas  tintas para nós e portanto não vale a pena estarmos nós preocupados com  eles.
Estritamente materialista, Epicuro destacou-se pela  tolerância cognitiva e pela recusa de dogmatismo. Os seus escritos sobre  astronomia, por exemplo, ou sobre outros fenómenos físicos, exploram as  diferentes teorias da altura, mas sem se comprometer dogmaticamente com  nenhuma: argumenta que em muitos casos não se sabe pura e simplesmente  como as coisas realmente são.
A filosofia do período helenístico  tem conhecido uma profusão de estudos recentes que rejeitam a ideia de  que os pontos altos da filosofia grega foram Platão e Aristóteles. Este  livrinho é um bom ponto de partida para a aventura de descobrir a imensa  riqueza da filosofia grega do período helenístico.