Moema

Moema
Moema - Rodolfo Bernardelli

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

SAUDADE

Hoje que a mágoa me apunhala o seio,

E o coração me rasga atroz, imensa,

Eu a bendigo da descrença em meio,

Porque eu hoje só vivo da descrença.



À noite quando em funda soledade

Minh'alma se recolhe tristemente,

Pra iluminar-me a alma descontente,

Se acende o círio triste da Saudade.



E assim afeito às mágoas e ao tormento,

E à dor e ao sofrimento eterno afeito,

Para dar vida à dor e ao sofrimento,



Da saudade na campa enegrecida

Guardo a lembrança que me sangra o peito,

Mas que no entanto me alimenta a vida.


Augusto dos Anjos

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Objectivo da Arte não é Ser Compreensível

Toda a arte é expressão de qualquer fenómeno psíquico. A arte, portanto, consiste na adequação, tão exacta quanto caiba na competência artística do autor, da expressão à cousa que quer exprimir. De onde se deduz que todos os estilos são admissíveis, e que não há estilo simples nem complexo, nem estilo estranho nem vulgar.
Há ideias vulgares e ideias elevadas, há sensações simples e sensações complexas; e há criaturas que só têm ideias vulgares, e criaturas que muitas vezes têm ideias elevadas. Conforme a ideia, o estilo, a expressão. Não há para a arte critério exterior. O fim da arte não é ser compreensível, porque a arte não é a propaganda política ou imoral.



Fernando Pessoa, in 'Sobre «Orpheu», Sensacionismo e Paùlismo'